Como ajudar agrônomos a lidar com um processo técnico, extenso e obrigatório — direto do celular, no meio da lavoura?
Esse foi o desafio por trás do redesign do CropReceita (nome fictício), um app de receituário agronômico. A ferramenta é usada por engenheiros agrônomos para emitir receitas de defensivos agrícolas, exigidas por lei em diversas regiões do Brasil.
Apesar de essencial, o aplicativo era motivo de reclamações constantes. O fluxo de geração da receita era confuso, demorado e repleto de fricções. O resultado? Baixa adesão e uso limitado da plataforma no dia a dia do campo.
O app original apresentava interface confusa e usabilidade comprometida. Usuários enfrentavam telas sobrecarregadas de informação e navegação pouco intuitiva. Emitir uma receita agronômica levava tempo demais e muitos desistiam no meio do processo. Além disso, funções vitais estavam ausentes ou escondidas. Por exemplo: não havia um fluxo claro para a criação de receitas e também faltavam instruções e orientações quando aconteciam erros ou quando o usuário deixava de preencher algo que era essencial para o processo.
Esses problemas foram identificados por meio de entrevistas em profundidade com usuários e análise de uso do app. Os agrônomos relataram frustração com a quantidade de campos obrigatórios e etapas redundantes. Muitos acabavam ligando para o suporte em busca de ajuda, evidenciando falhas na experiência do usuário. A análise dos dados de uso corroborou as queixas: a taxa de conclusão de receitas era baixa e o tempo médio para finalizar uma prescrição era alto. Esse diagnóstico reforçou a urgência de um redesenho centrado no usuário.
A proposta foi tornar a experiência mais objetiva, fluida e condizente com o contexto de uso:
Após o redesenho do CropReceita, o aplicativo alcançou resultados notáveis:
Tempo médio de emissão de receita: reduzido de 12 minutos para 5 minutos (em média).
Satisfação do usuário: aumentou de 65% para 92% (segundo pesquisas pós-uso).
Chamados de suporte: redução de cerca de 50% nas dúvidas relacionadas ao uso do app.
Adoção do produto: o número de receitas emitidas por mês triplicou, indicando maior uso pela base de agrônomos.
Esses números refletem um salto em eficiência e satisfação.
Para guiar a pesquisa, foi essencial estabelecer prioridades e estruturar hipóteses que pudessem ser validadas ao longo do desenvolvimento. Esse processo inicial funcionou como ponto de partida para um diagnóstico mais claro sobre o cenário atual do aplicativo, revelando desafios concretos de usabilidade e orientando as decisões estratégicas do redesign.
Certezas ❊
Usuários sentem-se perdidos no processo atual: A falta de orientação é uma fonte de frustração, levando os usuários a não saberem qual é o próximo passo ou a se sentirem inseguros sobre o que deve ser feito em cada etapa.
A interface atual apresenta diversos bugs e erros:Relatos frequentes indicam problemas técnicos que interrompem o uso, sendo crucial revisar e estabilizar a funcionalidade do app durante o redesenho.
Há pouco feedback durante o processo: O aplicativo atual não fornece feedback visual ou sonoro suficiente para confirmar ações e orientar o usuário, tornando a navegação confusa e pouco informativa.
O processo de criar uma receita é intrinsecamente complexo: A complexidade do processo de receituário agronômico é algo que faz parte da natureza da tarefa. O design precisará, portanto, encontrar um equilíbrio entre orientar o usuário e não simplificar demais o processo.
Os usuários precisam de um design intuitivo e funcional: Os profissionais do setor agronômico esperam uma experiência intuitiva, onde o design seja funcional e direto, permitindo uma navegação eficiente e prática.
Suposições ✽
Orientações passo a passo ajudarão a reduzir frustrações: Acreditamos que, se o app incluir orientações claras para cada etapa, os usuários terão uma experiência mais tranquila e confiante, sem se sentirem perdidos.
Feedback visual constante vai aumentar a satisfação: Supomos que adicionar feedback visual constante (mensagens, confirmações, indicações de erro) durante todo o processo reduzirá a frustração dos usuários e ajudará a evitar erros.
O problema com erros é agravado pela falta de explicações: Acreditamos que, além dos erros em si, a frustração dos usuários é aumentada pela falta de explicações ou orientações para resolver os problemas. Fornecer descrições detalhadas de erros pode reduzir a frustração.
A demanda por suporte técnico pode diminuir com um design mais intuitivo: Se o novo design for suficientemente intuitivo e informativo, a necessidade de suporte técnico pode diminuir, pois os usuários conseguirão resolver pequenos problemas por conta própria.
Os usuários se adaptarão bem a melhorias no fluxo e na interface visual: Supomos que, com melhorias no fluxo e uma interface mais limpa, os usuários, incluindo os que estão acostumados ao design atual, conseguirão fazer uma transição fácil e apreciar as mudanças.
Dúvidas ✷
Quais são as maiores fontes de frustração dos usuários? Os usuários mencionaram que o processo de criar uma receita é confuso e frustrante, mas quais etapas ou interações são as mais problemáticas? É o fluxo, as mensagens de erro, ou outra parte do processo?
Qual é o nível de complexidade esperado pelos usuários? Os usuários acham o aplicativo complexo porque o processo em si é complicado, ou há uma expectativa de simplificação que ainda não foi atendida pelo design atual?
Como o feedback visual e textual pode Ser Melhorado?Que tipos de feedback visual e textual são mais eficazes para os usuários deste app? Precisamos entender se os usuários preferem alertas visuais, mensagens pop-up, ou outra forma de comunicação para orientá-los melhor.
Quais São os Erros Mais Frequentes e Como Eles São Tratados Atualmente? Entender quais erros ocorrem com mais frequência e como eles são apresentados aos usuários ajudará a priorizar as mudanças necessárias para reduzir frustrações.
Qual é o Grau de Familiaridade dos Usuários com Tecnologia? Como o público-alvo lida com tecnologias digitais? Isso é fundamental para definir o nível de complexidade ideal e o tipo de instruções que o app deve apresentar.
Para embasar as decisões de redesign, conduzi entrevistas qualitativas com usuários que atuam diretamente no campo. O objetivo foi mapear suas necessidades reais, identificar fricções de uso e avaliar a performance da interface atual no fluxo mais crítico do aplicativo: a criação de receitas agronômicas.
Durante as conversas, explorei aspectos como clareza das informações, fluidez de navegação, eficiência das tarefas e contexto de uso em áreas rurais. A análise das respostas revelou padrões importantes de comportamento, pontos de frustração recorrentes e sugestões práticas que ajudaram a direcionar soluções mais aderentes à realidade do público.
Principais insights ✷
Falta de clareza nas etapas: usuários relataram dúvidas sobre a ordem correta do preenchimento e ausência de orientações nos campos obrigatórios.
Sobrecarga cognitiva: a quantidade de informações técnicas e termos específicos gerava insegurança durante o processo.
Barreiras técnicas: campos obrigatórios não adaptáveis ao contexto, ausência de rascunho visível e perda de dados em caso de queda de conexão foram mencionados como impeditivos para o uso recorrente.
Assinatura digital mal integrada: o fluxo era desmembrado e pouco intuitivo, fazendo com que muitos usuários acreditassem que o processo já estava finalizado quando ainda faltava a etapa de assinatura.
Falta de visibilidade de funções-chave: elementos como “Nova Receita” ou “Solicitação de Receita” estavam mal posicionados impactando a produtividade dos profissionais.
Concorrência mais simples, porém eficaz: apps com menos funcionalidades técnicas eram preferidos por serem mais rápidos e objetivos, o que revelou que, na prática, usabilidade tem mais peso do que robustez.
Esses insights reforçaram a importância de criar um fluxo mais orientado, com linguagem acessível, etapas guiadas e autonomia para o usuário lidar com limitações do ambiente (como instabilidade de internet ou rotinas repetitivas). A pesquisa também validou a hipótese inicial de que o aplicativo estava mais voltado à lógica do sistema do que às reais necessidades de quem o usa no campo.
Além da escuta com usuários, realizei uma análise heurística do aplicativo anterior com base nas 10 heurísticas de Nielsen, focando em aspectos críticos da experiência:
✻ Visibilidade do status do sistema:
O app não deixava claro em que etapa do processo o usuário estava ou qual seria o próximo passo. Isso gerava insegurança durante a criação da receita e contribuía para abandonos no meio do fluxo.
✻ Ajuda e documentação contextual:
Não havia explicações, dicas ou instruções acessíveis durante o preenchimento. A ausência de orientação dificultava especialmente a experiência de usuários novos ou menos familiarizados com o processo técnico.
✻ Prevenção de erros:
O sistema oferecia pouca prevenção contra ações incorretas, e, quando erros aconteciam (como campos obrigatórios em branco ou seleção de produtos incompatíveis), o feedback era inexistente ou vago. Faltavam mensagens claras que explicassem o problema e orientassem o próximo passo.
Essas heurísticas quebradas reforçaram a necessidade de tornar o novo aplicativo mais autoexplicativo, com feedback visual claro, mensagens orientativas e fluxos guiados que reduzissem o risco de erro e aumentassem a confiança do usuário durante o uso.
Mapeei a jornada completa do usuário no aplicativo, desde o primeiro acesso até a emissão e gestão das receitas. O objetivo foi garantir uma experiência fluida, informativa e condizente com a complexidade do processo agronômico, sem abrir mão da usabilidade.
⋆ Acessar o aplicativo
O acesso ao CropReceita é feito via app mobile. O usuário realiza login em duas etapas (usuário/senha + autenticação complementar) e é direcionado a uma tela de carregamento. Essa etapa é necessária especialmente no primeiro acesso, quando o sistema sincroniza uma grande quantidade de dados da conta.
⋆ Onboarding e cadasto de informações iniciais
Na primeira utilização, o usuário é guiado por um onboarding dividido em duas etapas: a configuração das culturas relacionadas à sua conta e a autorização para uso de biometria ou token como forma de autenticação rápida. Essa etapa garante personalização e segurança logo no início da experiência.
⋆ Sincronizar o aplicativo
Após o onboarding, o sistema realiza uma sincronização automática para garantir que o usuário tenha acesso às versões mais recentes de produtos, receitas, solicitações e dados vinculados à sua conta. A qualquer momento, o usuário pode acionar uma sincronização manual caso perceba necessidade de atualização imediata.
⋆ Criar uma nova Receita
Pelo menu inferior, o usuário inicia o fluxo de criação de receita — dividido em 6 etapas obrigatórias devido à complexidade do processo. O formulário é guiado e validado etapa por etapa, o que reduz erros e garante a integridade do documento final. Ao longo do fluxo, campos inteligentes e sugestões de preenchimento otimizam a experiência.
⋆ Visualizar Lista de Receitas
Na tela inicial do app, o usuário tem acesso à sua lista de receitas organizadas por status: rascunho, assinada ou pendente. A interface permite aplicar filtros, acessar os detalhes, editar documentos ou compartilhá-los em diferentes formatos. Tudo foi pensado para facilitar o gerenciamento de documentos recorrentes.
⋆ Assinar Receitas
O acesso ao CropReceita é feito via app mobile. O usuário realiza login em duas etapas (usuário/senha + autenticação complementar) e é direcionado a uma tela de carregamento. Essa etapa é necessária especialmente no primeiro acesso, quando o sistema sincroniza uma grande quantidade de dados da conta.
⋆ Vizualizar Solicitação de Receitas
O módulo de solicitações reúne pedidos feitos por produtores ou parceiros, contendo informações pré-preenchidas que servem como base para gerar uma nova receita. Isso agiliza o processo, especialmente quando o agrônomo trabalha com clientes recorrentes e prescrições semelhantes.
⋆ Realizar Consultas Fitossanitárias
No mesmo menu inferior, o módulo de consulta permite acessar uma base de dados regulatória com produtos registrados por cultura, princípio ativo ou fabricante. Essa funcionalidade facilita a tomada de decisão no momento da prescrição e evita erros técnicos, reforçando a confiabilidade da receita.
O novo login agora incorpora comunicações de marketing e mensagens de valor do produto, transmitindo profissionalismo e reforçando o posicionamento da marca logo na entrada. A tela de carregamento também foi otimizada: em vez de apenas exibir um ícone de espera, ela informa ao usuário que o sistema está sincronizando dados, oferecendo mais transparência e gerando confiança desde o primeiro uso.
O fluxo de onboarding foi completamente reformulado. Agora, o usuário é guiado por duas etapas: configuração das culturas vinculadas à sua conta e ativação do método de autenticação (biometria ou token). A proposta foi reduzir a fricção inicial e preparar o ambiente para que o uso do app já comece de forma personalizada, clara e segura.
O menu inferior foi redesenhado com foco em hierarquia visual e previsibilidade. O botão de criação de receita ganhou destaque central, reforçando sua importância. No topo, o novo header informa o módulo atual, traz o perfil do usuário com acesso rápido às configurações, e um componente dinâmico que exibe o status de sincronização em tempo real. Como detalhe, a logo do app também passou a funcionar como botão de acesso às informações técnicas (versão, última atualização).
Essas três áreas foram redesenhadas para priorizar busca rápida, organização de dados e legibilidade. Os campos de filtro ganharam destaque no topo das telas, e os cards agora exibem informações completas de forma condensada e escaneável. Na consulta fitossanitária, a estrutura dos resultados foi reformulada para facilitar a análise técnica e acelerar a tomada de decisão.
Essa era a parte mais crítica e foi completamente reestruturada. O modelo anterior — com preenchimento livre e desorganizado — foi substituído por um fluxo dividido em 6 etapas guiadas, com instruções fixas em tela, validações progressivas e um indicador de progresso visível no topo. Na etapa de seleção de produtos (a mais densa do processo), foram aplicados modais inteligentes, permitindo interações paralelas sem perder o contexto da etapa principal.
O novo fluxo de assinatura oferece mais autonomia e flexibilidade. Agora é possível assinar com um certificado digital A1 previamente salvo ou realizar o cadastro diretamente na mesma interface, sem sair do fluxo. O sistema reconhece automaticamente se há certificados disponíveis e apresenta a opção adequada. Isso reduz etapas, elimina frustrações e garante mais eficiência, especialmente para agrônomos que precisam assinar diversas receitas por dia.
Esse projeto mostrou o quanto a interface precisa respeitar o contexto do usuário. Projetar para o campo é diferente de projetar para o escritório — envolve pensar em clima, luz, tempo e até conectividade.
Às vezes, entregar menos, de forma mais clara, é o que gera mais valor.
Se quiser trocar ideias, discutir uma oportunidade ou compartilhar um projeto, estou por aqui. ♡
Marina Gonçalves © 2025 | Todos os direitos reservados